terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Filha do Tempo - Capítulo 2 - Em casa | parte 1

Sobre o conto: O texto abaixo faz parte do livro A Filha do Tempo, da saga Crônicas de Zan, ainda no processo de criação. Vocês conheceram a história de Deb, uma garota normal, com uma vida normal, até que sua diretora se transforma em uma criatura horripilante e tenta matá-la.
Agora, ao lado de seu quase namorado Rod, sua irmã Pri e dois novos alunos de sua sala, Deb fará uma jornada incrível, recheada de amor, lealdade, suspense, luta muitas criaturas fantásticas.
Você confere o epílogo do livro no artigo Crônicas de Zan: Os três reis deuses, aqui no Literatura Fantástica Brasil. Logo mais será lançado o blog do livro, que conterá essa e outras histórias das Crônicas de Zan.





Graças a Deus o resto do meu dia foi normal. Depois de meus pais me encherem de perguntas sobre minha saúde e de minha mãe passar quinze minutos convencendo meu pai de que eu não precisava tomar benzectacil, entramos no carro e fomos para casa.


Essa história do benzectacil seria engraçada, não fosse trágica. Meu querido pai chama-se Zé Carlos, ou Machado, pro pessoal da rua. Ele é moreno claro, carequinha, com uma pancinha proeminente, olhos castanhos escuros e nariz de chapoquinha. Sei lá porque cargas d’água ele acha que benzectacil é o melhor remédio pra tudo. Seja enjôo, dor de garganta, gripe, falta de ar... O que você tiver. Se minha mãe não tá por perto, ele corre com meus irmãos e eu para o pronto socorro, com a esperança do médico nos dar a “bendita” injeção.


Acho que foi daí que eu tirei o meu trauma de agulhas. Sério cara, pra você ter uma idéia, eu morro de vontade de fazer o segundo furo nas zorebas, mas não tenho coragem, suo frio só de pensar.


Mas graças aos céus minha mãezinha estava perto hoje, a salvadora. Mamãe é bem gordinha, baixinha, de cabelos ruivos e pele bem branquinha. É uma mãezona que transborda meiguice. Cuida dos quatro filhos nos dando o melhor que pode, sempre realizando nossas vontades (desde que caibam no orçamento dela). Ela sempre corta meu pai, nos dando um ou outro remédio caseirinho que resolvem bem mais que a injeção do meu pai (mal ai pai).


Quando chegamos em casa, eram umas sete e meia. Minha mãe conferiu pela milionésima vez se eu não estava mesmo com febre e foi fazer a janta. Meus irmãos estavam ocupados com suas coisas, mas os três vieram ver como eu estava. Até o mala do André.


Eu sou a primogênita dos meus pais. Depois de mim, vem a Pri, um ano mais nova que eu, o André, com onze anos e a Carolzinha com dez. Bem escadinha mesmo.


A Pri é um pouco mais alta que eu, branquinha também, mas mais queimadinha do sol.Tem cabelos castanhos, mas as vezes gosta de pintar de vermelho. Sei lá porque ela adora ser ruiva. Ah! sim. Adora amarelo. Sabe aquele amarelão, bem cegante? É esse mesmo que ela gosta.


O André... Bom, sabe aquela peste de irmão caçula? Bem, mas bem atentado mesmo, que não para um segundo? Esse é o André, se você multiplicar por dez. Ele é bem parecido com Pri, só que tem os cabelos curtos e lisos penteados pro lado, é mais moreno e tem os olhos bem esbugalhados, parecendo o Caco dos Mupets Babys.
E por último mas não menos importante, temos a Carolzinha. Ela é um amor de menina, hiper meiga. É a alegria da casa. Fã de carteirinha dos gibis da Turma da Mônica Jovem, é a única de casa que gosta de ler. Graças ao Rod... Ele que incentivou ela a ler e deu o primeiro livro dela, A Torre Invisível, história do rei Arthur nos tempos modernos, e etc.


Naquela noite, minha mãe fez sopa, que eu adoro. Aquela em especial era de salsicha com cenoura, batata e mandioquinha. Simplesmente delicioso! Nos servimos e sentamos para comer na sala, assistindo TV. Tirando meu pai assistindo o Programa do Ratinho, a noite estava ótima. Depois da janta comecei a ficar com muito sono e disse que ia dormir.


- Já? Mas são dez e meia ainda Deb! – Reclamou a Carolzinha. Ela gosta que eu fique brincando com ela, o que faço com o maior prazer. Ela é uma fófis, e meus irmãos não têm muita paciência com ela. Normalmente, jogamos Dama, Uno, Monopoly, entre outros jogos. Mas hoje eu estava muito cansada.


- Tô com muito sono amoré – respondi.


- Mas quem vai brincar comigo?
Ela já estava fazendo cara de choro, e eu odeio quando ela fica triste. Estava me preparando psicologicamente pra ajuda-la quando fui salva pelo gongo. Minha mãe, vendo que eu precisava descansar, me acudiu.


- A Pri brinca com você hoje lindinha. Deixa a Deb dormir, ela precisa descansar.
- Ah! Mãe! - disseram as duas junto.


Nenhuma das duas gostou muito. A Pri e a Carol não se davam muito bem. A Pri tava nessa onda de “tudo com criança é chato e tosco”, e a tadinha da Carol sempre foi grudada na Pri. Elas sempre brincavam juntas, mas de uns dois anos pra cá, quando a Pri entrou na adolescência, evitava ao máximo qualquer coisa que pudesse faze-la pagar um “kong”. E por isso, a Carolzinha foi se afastando dela. Agora, difícilmente estão juntas.


- É – concordou meu pai.- Sua irmã precisa se recuperar. Amanhã tem aula, e se ela não estiver bem, terá que faltar pra ir ao médico.


Depois que ouviu isso, a caçulinha resolveu aceitar. Nós sabíamos que minha mãe trabalha de manhã, sendo assim, meu pai que nos leva ao médico durante o dia. Isso com certeza significava injeção. E nisso, os quatro irmãos eram unidos pra evitar ao máximo as picadas.


- Tá bom então...


Vendo a carinha de choro que ela fez, quase mudei de idéia. Odiava ver a caçulinha triste, mas fico mais aflita com a possibilidade de uma injeção. Me arrepio só de pensar.


- Amanhã brinco com você gatinha. Prometo.


Me despedi de todos e fui pra me arrumar pra dormir. Coloquei meu pijama, escovei os dentes e me deitei. Estava com tanto sono que adormeci assim que fechei os olhos. Dormi que nem uma pedra.

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